Casa em Lisboa
Descrição
A concepção desta casa resulta de uma reflexão sobre temas identitários da arquitectura lisboeta, numa tipologia recorrente de lote com 6 metros de largura por 15 de profundidade, rematado por um pequeno jardim nas traseiras. Trata-se de um edifício de 5 pisos com duas fachadas radicalmente diferentes: a “pública“ em pedra de lioz branco (a mais utilizada em Lisboa) e a das traseiras em vidro, ligadas por um mundo interior em betão aparente, pontuado pela presença de elementos em madeira de bétula.
A fachada radica evidentemente na tradição lisboeta, sendo esta ligação reforçada pela estrutura rítmica das janelas, abertas num sistema de vãos cegos criado por um conjunto de faixas horizontais e bandas verticais – característicos da arquitectura da cidade. Tal como a maioria dos edifícios antigos de Lisboa, é uma fachada plana cuja expressão resulta da sua natureza ritmada, e de efeitos de luz e sombra produzidos por recuos das superfícies que a compõem. Este dispositivo confere à fachada uma noção de tempo que se expressa através da evolução que as suas sombras sofrem ao longo do dia, desde um registo matinal mais subtil – sem sol directo – a sombras fortemente contrastadas durante a tarde.
Além de uma evidente preocupação de vincular a fachada aos alinhamentos envolventes, o desenho evidencia um óbvio contraste entre a base – mais opaca – e o coroamento – mais desmaterializado. Se o piso térreo responde de forma defensiva à estreiteza da rua, bem como ao facto de os moradores estacionarem os carros em frente de portas e janelas, já o coroamento mais permeável e desmaterializado, é um espaço simultaneamente interior e exterior – um pátio superior, faz a transição entre o edifício mais baixo – a sul – e o mais alto – a norte. Mas é também um espaço que, apesar do seu carácter intimista, permite o olhar sobre a envolvente e a distante estátua do Cristo Rei, a sul, no eixo da rua.
Na fachada posterior explora-se a extrema transparência que prolonga o interior para fora e abre o campo visual sobre o jardim – onde domina uma esplêndida Tília – direccionando o olhar nos pisos superiores sobre as colinas de Lisboa, o Tejo, e a margem Sul. Sendo um lado da casa radicalmente aberto para o exterior, a luz abundante que ali incide directamente durante a manhã é equilibrada pelo facto de todos os planos serem construídos em betão cinza.
No interior, a precisão do desenho do espaço, bem como da inclusão de 2 portas na generalidade dos compartimentos, confere aos cinco pequenos pisos uma forte sensação de desafogo, bem como, a quem ali vive, uma evidente sensação de fluidez e liberdade de movimentos. Em termos de investigação construtiva este projecto é um exemplo onde toda a estrutura conforma o espaço e torna-se em si mesma arquitectura. Ou seja, a totalidade da estrutura de betão, constituída por apenas 3 planos – duas empenas e uma lâmina transversal – é exposta e pensada para definir o essencial do espaço da casa.
Como um espaço simultaneamente natural e cenográfico, de contemplação e vivência, o jardim é assumido como universo arqueológico, onde estão presentes as diversas camadas temporais desde a fundação da casa. Aqui, são perceptíveis as técnicas antigas de construir os espessos muros em pedra (por vezes re-aproveitada de outras construções) as posteriores sobreposições em tijolo, argamassa ou tinta, bem como as pedras da casa demolida que aqui passam a constituir pavimentos.
Ficha Técnica
Lisboa, Portugal
436 m2
ARX Portugal, Arquitectos lda.
José Mateus
Nuno Mateus
Isabel Gorjão Henriques, Miguel Torres, Joana Pedro, Sofia Raposo, Rodrigo Gorjão Henriques, Paulo Rocha
Fundações e Estrutura
SAFRE, Projectos e Estudos de Engenharia Lda.
Instalações Técnicas, Equipamentos Especiais
Energia Técnica – Gabinete de Engenharia, Lda.
Construção
Manuel Mateus Frazão
Fotografia
FG + SG – Fotografia de Arquitectura
Fotografia : Fernando Guerra
Produção Fotográfica : Sérgio Guerra
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