Thyssen Tower Architecture Award
Descrição
“Cutting edge light technology versus millenar essenciality“
Memória Descritiva
”Tall Emblem Structure for Za’abeel Park in Dubai“, é o título deste concurso que coloca inequivocamente o seu objectivo primordial na criação de uma landmark.
Numa cidade sobrecarregada de signos e de objectos que nos interpelam pela sua eloquência, ou extraordinária expressividade, interrogamo-nos sobre o que poderá tornar este objecto uma landmark, um ponto notável que se inscreva no imaginário colectivo.
Um olhar sobre o Dubai, revela uma invulgar concentração de obras emblemáticas, de surpreendente escala, cujo desenho reflecte a ambição de as inscrever num espaço cultural de vanguarda arquitectónica, mas também de afirmação da capacidade de realização do Homem. Por isso, porque seria mais uma peça a diluir-se neste contexto, não acreditamos no caminho da afirmação pela extravagância, tão-pouco da afirmação em altura, que aqui se encontra limitada a 174 metros.
O Dubai tende hoje para uma espécie de síntese civilizacional, onde estão presentes os seus extremos; a arquitectura popular, e a erudita; a especificidade da cidade e da cultura muçulmanas e a diversidade da cidade e da cultura cosmopolita; o “low-tech“ das formas de construção milenares e o high-tech da “última geração“. O simples ou reconhecível e o extravagante. O essencial e o excessivo.
Perante tal realidade, pareceu-nos importante que esta nova Landmark baseie a sua singularidade na sua quase radical simplicidade. E que incorporasse aquilo que nos parece ser o mais relevante do Dubai: essa “fusão“ de aspectos estruturantes do saber e da cultura dos Emiratos e do Dubai, aqueles que são milenares, com aqueles que chegaram recentemente com a surpreendente disponibilidade do Dubai para as tecnologias de vanguarda.
Propomos algo baseado na nossa visão de aspectos milenares da arquitectura islâmica: o universo das formas simples; a beleza telúrica e o carácter sustentável da construção de areia e do barro; a luz natural extraordinariamente modelada e filtrada. Mas, propomos explorar o cruzamento desses aspectos identitários com as novas possibilidades criadas com a tecnologia de vanguarda. Encontrando-se a sustentabilidade no centro das preocupações humanas, optámos pela incorporação em grande escala de superfícies fotovoltaicas que promovam a absorção de energia solar. Mas, não pretendemos fazê-lo através dos convencionais painéis solares ou fotovoltaicos, mas elegendo como matéria de trabalho as “revolucionárias“ superfícies fotovoltaicas ultra-finas criadas pela Nanosolar Corporation (California-USA / Berlim-Germany): the “nanosolar thin technology“. (*) Esta tecnologia de vanguarda permite transformar aquilo que até hoje são pesadas parafernálias tecnológicas, por vezes exibidas de forma caricata, em discreta matéria de acabamento, como uma “pele“ inteligente e sensível que reage ao sol e capta o seu potencial.
Pairaram ainda na nossa mente referências exteriores ao âmbito estrito da arquitectura, mas que nos alimentam e provocam uma reflexão central deste projecto: o corpo interior da torre, enquanto espaço em sentido puramente abstracto. Fixámos em particular as “caixas metafísicas“ de Jorge Oteíza, ou a magistral proposta de intervenção de Eduardo Chillida na montanha Tindaya na ilha de Fuerteventura.
Inserção geográfica
Uma análise macro territorial evidencia a localização estratégica da Za’abeel Landmark Tower. Situada numa faixa de transição urbana, a sul do centro histórico – Deira – no seio da vasta cidade nova, entre a cidade litoral e o interior ou o deserto. Trata-se de um ponto de súbita alteração do traçado da longa e estruturante Sheikh Zayed Road, que percorre o Dubai de norte a sul e o liga aos emiratos vizinhos. Ali, essa estruturante via descreve subitamente um arco do qual a torre é tendencialmente o centro.
A Za’abeel Landmark Tower é assim pensada como uma espécie de “ponto geodésico“ integrado numa malha cartográfica imaginária orientada no sentido norte-sul/este-oeste. A partir dela, a vários níveis da sua altura, o visitante orientará o olhar em direcção a Norte ( Za’abeel Park – Al Bastakia – Deira – Port Rashid – Mar); a Sul ( Burj Dubai – Al Markada – Deserto); a Nascente ( Za’ abeel Stadium – Dubai Creek – deserto) e a Poente ( Sheikh Zayed Road – mesquita Jumeirah – World – Mar).
Estrutura interna
Como se se tratasse de uma torre em “L“, chega-se à sua base percorrendo uma sequência de espaços horizontais, cuja cobertura se encontra à cota do solo envolvente. É o “segmento subterrâneo“ da torre. O visitante perde subitamente a relação visual com a envolvente, podendo visitar os espaços de exposições, de conferências e Kids place. Aqui, clarabóias ou pátios são as únicas fontes de luz solar que desta forma chega filtrada aos espaços internos.
O atravessamento deste 1º conjunto horizontal é fundamental para a criação do efeito dramático causado na chegada à base da torre, onde, subitamente se ergue um espaço misterioso imensamente alto (150m). É um espaço “abissal“ que pulsa através de dilatações dos seus limites, de sólidos que se suspendem no vazio, de luz que penetra filtrada através de superfícies perfuradas, ou de aberturas que subitamente se abrem francamente à luz e permitem o atravessamento do olhar de quem passa.
A torre possui uma estrutura interna que contraria a aparente rigidez da planta quadrangular. Um percurso periférico em espiral – alusivo aos minaretes – percorre o sólido em toda a altura, “propõe“ uma ascensão lenta ao topo do edifício e configura um espaço interno radicalmente alto. Em alternativa a este percurso, um conjunto escada-elevadores, ligado de 10 em 10 metros à espiral, proporciona uma deslocação vertical rápida ao restaurante, às piscinas ou terraços situados no topo do edifício. Ao longo do seu desenvolvimento em altura, 7 + 7 miradouros simbólicos proporcionam diferentes percepções da cidade e do espaço interno da torre, tantas quantos os Emiratos – 7 – que compõem os Emiratos Árabes Unidos.
A partir de longe, um olhar cuidadoso descobre que também são 7 os fragmentos que compõem a Za’abeel Landmark Tower.
De dia, para além da luz que penetra através dos vãos-miradouros, planos perfurados desenhados a partir da cartografia da abóbada celeste – alusivos aos tradicionais planos ornamentados de motivos geométricos –, permitem a entrada de luz filtrada. Casualmente, o visitante poderá descobrir constelações que durante séculos foram o meio vital de orientação para os os mercadores do Dubai – de pérolas e cobre – que desde tempos ancestrais viajaram pelo deserto e pelo mar até à longínqua China.
De noite, mais do que o objecto em si, sublinha-se a luz pulsante que irradia do seu interior, através dos seus miradouros/restaurante, das linhas de fractura, e das superfícies perfuradas.
Na base e no topo da torre, duas centrais técnicas recebem e processam a energia captada do sol, assegurando, para além da total autonomia do edifício em termos energéticos, o fornecimento necessário à totalidade do parque Za’abeel.
Materialidade
Para a globalidade dos espaços internos: Paredes e tectos em betão pigmentado a ocre e pavimentos em Send Stone simplesmente serrada;
Para a cobertura dos espaços situados no piso 0: superfícies ajardinadas na sequência do parque envolvente;
Para as fachadas; revestimento térmico projectado; lajes / tijolos de barro cozido fixados por ancoragens em aço inox Halfen; superfícies em cobre oxidado e em pintura fotovoltaica.
Ficha Técnica
Za'abeel Park, Dubai
ARX Portugal, Arquitectos lda. com Sofia Raposo e Ricardo Guerreiro
José Mateus
Nuno Mateus
Mariana Sá, João Dantas, Emanuel Rebelo, Fábio Cortês, Isabel Mello
Estruturas
TAL PROJECTO, Projectos, Estudos e Serviços de Engenharia Lda.
Optimização Energética, Térmica e Acústica
NATURAL WORKS, Engineering Consultants